Vida da Missionária Margery Harris
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- Categoria: Biografia
- Publicado em Quinta, 14 Fevereiro 2013 20:22
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Desde que aqui chegou, só retornou à Inglaterra uma vez, por ocasião de umas férias da missão.
Sua vida foi marcada pela fé, amor ao próximo e serviço, sendo uma lição aos que se negam, ou não puderam ainda sentir o prazer e a emoção de fazer o bem.
Não se precisava de muito tempo de conversa para conhecê-la. Em poucos minutos, seu sorriso franco, a gargalhada mais contagiante e os gestos ágeis de quem viveu em juventude plena, nos arrastavam de maneira inebriante para dentro de suas histórias.
Criei muitas e de todas as idades".
Mr. Charles foi um dos fundadores de Rondonópolis, MT, Brasil, quando por lá havia apenas mato e os seus habitantes, os índios boróros. Conta Margery que certa vez, tendo o Mr. Charles que ir a Cuiabá fazer compras deixou o cacique muito doente sob os cuidados dos outros missionários, inclusive uma enfermeira. O cacique morreu e a tribo, revoltada, assassinou todos os outros missionários.
Embora o acontecimento não deixasse de ser um momento triste e de grande constrangimento, essas passagens eram contadas com tamanha riqueza de detalhes que nos sentíamos telespectadores de um filme interessante. Outra passagem, lembrada por ocasião do casamento e acompanhada de um sorriso maroto foi que, na madrugada que aconteceu a cerimônia, às 2 horas da manhã, Mr. Charles foi buscar Margery na casa em que se hospedava, pois a esposa do pastor estava dando à luz. Tudo correu normalmente e a criança veio sadia, mas a noite fora por demais cansativa, tanto que na hora da cerimônia, pastor e noivos sentiam muito sono, e os cochilos misturavam-se ao ato solene de maneira discreta, mas observado por todos.
De Corumbá, subindo o rio Paraguai, o casal seguiu para Cáceres onde viveram 17 anos. Foram sete longos dias de viagem. À noite o grupo ancorava às margens do rio e se embrenhava floresta adentro, em meio às árvores e protegidos pela fé e pelos mosquiteiros, contavam os minutos para rever o sol e continuar a viagem ao destino.
Em Cáceres, MT, a missão de Margery não parou. Fazendo partos, cuidando de crianças e ensinando os princípios do Evangelho, ela e Mr. Charles não demoraram muito a se tornar bem conhecidos. A Igreja Neo-Testamentária foi edificada em terreno comprado por Mr. Charles, durante o tempo em que lá viveram.
À bordo de um navio de emigrantes, na 2ª classe, Margery viu de perto os horrores da guerra e lembrava-se que a tripulação, formada em grande parte por religiosos, pediam para que nada os interceptasse, para não terem que lançar mãos às armas. Nessa viagem. Ela contava que, após vários dias, numa manhã de céu azul, a embarcação aumentou repentinamente a velocidade e começou a navegar em zigue-zague. O comandante determinou que todos usassem seus salva-vidas pois um submarino alemão aproximava-se. Ela ouvira uma voz que lhe orientava, sob os tiros de um canhão, para que ajudasse as mulheres a manterem a calma e Margery, entregando-se a Deus, dispensou o salva-vidas para demonstrar que nada temia. Orando muito, mas com serenidade, viu desaparecer o submarino, apenas um emigrante português, bastande idoso, não havia suportado o perigo e faleceu. O lançamento do caixão ao mar foi uma lembrança que marcou durante muito tempo, os pensamentos de Margery.
Como na Inglaterra ou Cáceres, Margery fazia os partos, ajudava a levar fé e o evangelho a tantos que sofriam e cuidava das crianças que colocavam em suas mãos.
(Liverpool, Inglaterra, 1904-1999, Araçatuba, SP, Brasil). Faleceu às 11 horas da manhã de 19/04/1999, na cidade de Araçatuba, SP, Brasil, acometida de pneumonia. Inglesa de Liverpool, veio para o Brasil em 1930 em missão evangélica.
"Fui separada por Deus para servir às pessoas".
Nunca se preocuparam com a quantidade de fiéis, pois acreditava D. Margery que o sentido da fé está no tamanho das pessoas, que vão crescendo e trabalhando no caminho do bem. Atualmente, a Igreja Neo-Testamentária desenvolve suas atividades à Rua Coêlho Neto e à Rua Guaianazes, no bairro Paraíso.
Resguardando algumas tradições inglesas, o chá ao meio da tarde era um hábito que D. Margery não abria mão; e a fotografia num quadro à parede, já antiga, da família real inglesa, nos testemunhavam a origem da dona daquela casa tão bem arrumada.
Num português carregado de sotaque inglês, misturando muitas vezes a língua pátria na conversa, ela não se abatia nem ao lembrar das passagens mais tristes de sua vida.
Seu exemplo de fé, de amor ao próximo, de dedicação à missão de levar o evangelho a todos, ficou evidenciado nas suas expressões, gestos e ações.
Apreciando a personalidade de Margaret Tatcher, que não pensa em si mesma, mas somente no povo inglês, D. Margey estava sempre atualizada com as notícias da Inglaterra, pois todas as noites, quem falava em seu rádio era a BBC de Londres. Uma infinidade de cartas, também a ajudavam a manter-se informada sobre o que girava em tantos lugares e a correspondência com os amigos era um outro hábito que nos fazia encontrar Margery sempre debruçada em papéis, envelopes e fotos.
À Inglaterra, ela não tinha mais vontade de voltar, pois a certeza de que tudo mudou muito a desencorajava. Por outro lado, acreditava que não se adaptaria mais àquele clima bem mais frio que no Brasil.